O Planeta X e Outras Histórias - Parte 3

O Planeta X e Outras Histórias - Parte 3

A DESCOBERTA DE NEPTUNO, 1846

Por volta de 1841, os cientistas descobriram que havia grandes perturbações inexplicadas no movimento de Urano. John Couch Adams começou a investigar estes distúrbios. Apresentou duas soluções diferentes para este problema, assumindo que os desvios eram causados pela gravitação de um planeta desconhecido. Adams tentou apresentar as suas soluções ao observatório Greenwich, mas por ser novo e desconhecido, não foi tomado a sério. Em 1845, Urbain Le Verrier começou a investigar as luas. Urbain Le Verrier apresentou a sua solução em 1846, mas a França não tinha os recursos necessários para localizar o planeta.

Le Verrier então voltou para o observatório de Berlim, onde Galle e o seu assistente d'Arrest descobriram Neptuno na tarde de 23 de Setembro de 1846. Adams e Le Verrier partilham o crédito de terem previsto a existência e posição de Neptuno.

A PROCURA DE MUNDOS TRANS-NEPTUNIANOS, 1846 - 1930

Em 30 de Setembro de 1846, uma semana depois da descoberta de Netuno, Le Verrier declarou que pode haver ainda outro planeta desconhecido. Em 10 de Outubro, foi descoberta a maior lua de Netuno, Tritão. Tritão deu um método fácil para determinar em pormenor a massa de Netuno, que mostrou ser 2 por cento maior do que esperado pelas perturbações de Urano. Parecia que os desvios no movimento de Urano eram causados por dois planetas. Além disso, viu-se que a verdadeira órbita de Netuno era significativamente diferente das órbitas previstas tanto por Adams como por Le Verrier.

David Todd fez a primeira verdadeira tentativa para encontrar um planeta trans-Neptuniano. Usou um "método gráfico", e apesar da inconcludência das informações sobre Urano, ele descobriu elementos do planeta trans-Neptuniano:

distância média 52 UA;
período, 375 anos; e,
magnitude menor de 13.

EVIDÊNCIA DE COMETAS

Em 1879, Camille Flammarion juntou outra sugestão sobre a existência de um planeta para além de Neptuno: os afélios de cometas periódicos tendem a agrupar-se à roda das órbitas dos planetas maiores. Júpiter tem a maior parte destes cometas e Saturno, Urano e Netuno também têm alguns. Flammarion descobriu dois cometas: 1862 III com um período de 120 anos e um afélio a 47.6 UA; e 1889 II, com um período um pouco maior e um afélio a 49.8 UA. Flammarion sugeriu que o planeta hipotético provavelmente se move a 45 UA.

Um ano depois, em 1880, o professor Forbes publicou uma memória referente aos afélios de cometas e à sua associação com órbitas planetárias. Por volta de 1900, eram conhecidos cinco cometas com afélios fora da órbita de Netuno, e então Forbes sugeriu um trans-Neptuniano a uma distância de cerca de 100 UA, e outro a 300 UA, com períodos de 1,000 e 5,000 anos, respectivamente.

ESTIMATIVAS, 1900 - 1905

Durante os cinco anos seguintes, diversos astrônomos/matemáticos publicaram as suas próprias idéias do que poderia ser encontrado na parte exterior do sistema solar. No entanto, nenhum obteve imagens destes supostos planetas. Gaillot no Observatório de Paris assumiu dois planetas trans-Neptunianos a 45 e 60 UA. Thomas Jefferson Jackson See previu três planetas trans-Neptunianos: "Oceanus" a 41.25 UA com um período de 272 anos; "trans-Oceanus" a 56 UA com um período de 420 anos; e, um planeta a 72 UA com um período de 610 anos.

Dr. Theodor Grigull de Munster, Alemanha, assumiu em 1902 que um planeta da dimensão de Urano existia a 50 UA com um período de 360 anos, a que chamou Hades. Grigull baseou o seu trabalho principalmente nas órbitas de cometas com afélios para além da órbita de Netuno, verificando também se a força gravitacional de um corpo como este produziria os desvios observados no movimento de Urano. Em 1921, Grigull reviu o período orbital de Hades para 310-330 anos, para corresponder melhor aos desvios observados.

Em 1900, Hans-Emil Lau de Copenhaga publicou elementos de dois planetas trans-Neptunianos a distâncias de 46.6 e 70.7 AU, com massas de 9 e 47.2 vezes a da Terra, e uma magnitude para o planeta mais próximo de cerca de 10-11. Em 1900, as longitudes destes corpos hipotéticos eram de 274° e 343°, ambos com a grande incerteza de 180°.

Em 1901, Gabriel Dallet deduziu a existência de um planeta hipotético a 47 UA com uma magnitude de 9.5-10.5 e uma longitude de 358°. No mesmo ano, Theodor Grigull concluiu da longitude de um planeta trans-Neptuniano como estando menos de 6° afastado do planeta de Dallet, e mais tarde reduziu a diferença para 2.5°. Este planeta era suposto estar a 50.6 UA de distância.

Em 1904, Thomas Jefferson Jackson See sugeriu três planetas trans-Neptunianos, a 42.25, 56 e 72 UA. O planeta com órbita mais interior teria um período de 272.2 anos e uma longitude em 1904 de 200°. Um general russo chamado Alexander Garnowsky sugeriu quatro planetas hipotéticos mas não conseguiu dar quaisquer detalhes deles.

PREDIÇÕES DE PICKERING

As duas predições mais cuidadosamente estudadas sobre planetas trans-Neptunianos foram de origem americana: de Pickering, "A search for a planet beyond Neptune" ("À procura de um planeta para lá de Neptuno") e de Percival Lowell, "Memoir on a trans-Neptunian planet" ("Memória sobre um planeta trans-Neptuniano"). Referiam-se ao mesmo objeto mas usando aproximações diferentes e chegando a resultados diferentes.
Pickering utilizou uma análise gráfica e sugeriu um "Planeta O" a 51.9 UA com um período de 373.5 anos, uma massa duas vezes a da Terra e uma magnitude de 11.5-14. Pickering sugeriu outros oito planetas trans-Neptunianos durante os seguintes 24 anos. Os resultados de Pickering fizeram que Gaillot revisse as distâncias dos seus dois trans-Neptunianos para 44 e 66 UA, e atribuiu-lhes as massas de 5 e 24 massas terrestres.

Entre 1908 e 1932, Pickering propôs sete planetas hipotéticos - O, P, Q, R, S, T e U. As características finais dos planetas O e P definem corpos completamente diferentes dos originais, por isso o total pode ser definido para nove, certamente o recorde de prognósticos planetários. Muitas das predições de Pickering são apenas curiosidades transitórias. Em 1911, Pickering sugeriu que o planeta Q teria uma massa de 20,000 Terras, fazendo-o 63 vezes mais massivo do que Júpiter e com cerca de 1/6 da massa do Sol, próximo de uma estrela de pouca massa. Pickering disse que o planeta Q teria uma órbita altamente elíptica.

Nos últimos anos, apenas o planeta P ocupou seriamente a sua atenção. Em 1928, ele reduziu a distância de P de 123 para 67.7 UA, e o seu período de 1400 para 556.6 anos. Ele deu a P a massa de 20 Terras e uma magnitude de 11. Em 1931, depois da descoberta de Plutão, ele definiu outra órbita elíptica para P: distância de 75.5 UA, período de 656 anos, massa de 50 Terras, excentricidade de 0.265 e inclinação de 37°. Estes valores eram próximos dos atribuídos para a órbita em 1911. O seu Planeta S, proposto em 1928 e atribuídas as características de 1931, foi colocado à distância de 48.3 UA (próximo do Planeta X de Lowell a 47.5 UA) com um período de 336 anos, uma massa igual a cinco vezes a da Terra, e uma magnitude de 15. Em 1929, Pickering propôs o planeta U a uma distância de 5.79 UA e um período de 13.93 anos, cálculos que o colocaram logo a seguir à órbita de Júpiter. Pickering deu ao Planeta U uma massa equivalente a 0.045 da Terra e uma excentricidade de 0.26. O último dos planetas de Pickering é o planeta T, sugerido em 1931: distância de 32.8 UA e um período de 188 anos. As características de Pickering para o planeta O eram:

Dist média Período Massa Magnitude Node Incl Longitude
1908 51.9 373.5 a. 2 Terras 11.5-13.4 105.13
1919 55.1 409 a. 15 100 15
1928 35.23 209.2 a. 0.5 Terras 12

PESQUISA DE "X" POR LOWELL

Percival Lowell, mais conhecido pela proposta dos canais de Marte, construiu um observatório privado em Flagstaff, Arizona. Lowell chamou ao seu planeta hipotético Planet X, e fez várias pesquisas para o descobrir, sem sucesso. A primeira pesquisa de Lowell pelo Planeta X chegou ao fim em 1909, mas em 1913 iniciou uma segunda pesquisa, com uma nova predição do Planeta X:

época, 1850-01-01;
longitude média, 11.67°,
longitude do periélio, 186°;
excentricidade, 0.228,
distância média, 47.5 UA;
nó do arco longo, 110.99°;
inclinação 7.30°; e,
massa, 1/21,000 massas solares.

Lowell e outros procuraram em vão este Planeta X em 1913-1915. Em 1915, Lowell publicou os seus resultados teóricos do Planeta X. É irônico que neste mesmo ano, 1915, foram registradas duas imagens fracas de Plutão no observatório de Lowell, apesar de ninguém o descobrir durante mais 15 anos. A falha de Lowell na descoberta do Planeta X foi o grande desapontamento da sua vida. Ele não dispendeu muito tempo à procura do Planeta X durante os últimos dois anos da sua vida. Lowell morreu em 1916. Nas cerca de 1,000 fotos obtidas nesta segunda pesquisa estavam 515 asteróides, 700 estrelas variáveis e 2 imagens de Plutão.

PLUTÃO

A pesquisa do Planeta X começou em Abril de 1927. Não foi feito qualquer progresso em 1927-1928. Em Dezembro de 1929, um jovem rapaz de uma quinta e astrônomo amador, Clyde Tombaugh, do Kansas, foi contratado para fazer a pesquisa. Tombaugh iniciou o seu trabalho em Abril de 1929. Em 23 e 29 de Janeiro de 1930, ele expôs o par de placas em que descobriu Plutão ao examiná-las em 18 de Fevereiro. Na altura da sua descoberta, Tombaugh tinha examinado centenas de pares de placas e milhões de estrelas.

O nome de Plutão é em si mesmo uma história. As primeiras sugestões para o nome deste novo planeta eram: Atlas, Zymal, Artemis, Perseus, Vulcano, Tântalo, Idana, Cronus. O New York Times sugeriu Minerva, os repórteres sugeriram Osiris, Baco, Apolo, Erebo. A viúva de Lowell sugeriu Zeus, mas mais tarde mudou de idéias para Constância. Muita gente sugeriu que o planeta de chamasse Lowell. O pessoal do observatório de Flagstaff, onde Plutão foi descoberto, sugeriu Cronus, Minerva e Plutão. Alguns meses mais tarde o planeta recebia oficialmente o nome de Plutão. Este nome tinha sido originalmente sugerido por Venetia Burney, uma jovem estudante de 11 anos de Oxford, Inglaterra.

A primeira órbita calculada para Plutão atribui-lhe uma excentricidade de 0.909 e um período de 3,000 anos. Isto trouxe algumas dúvidas se seria mesmo um planeta. No entanto, alguns meses mais tarde, foram obtidos elementos orbitais consideravelmente melhores. Abaixo está uma comparação dos elementos orbitais do Planeta X de Lowell, do Planeta O de Pickering e de Plutão:
X de Lowell O de Pickering Plutão

a (dist méd.) 43.0 55.1 39.5
e (excentricid.) 0.202 0.31 0.248
i (inclinação) 10 15 17.1
N (long asc node) (not pred) 100 109.4
W (long periélio) 204.9 280.1 223.4
T (data periélio) Feb 1991 Jan 2129 Sept 1989
u (movim anual médio) 1.2411 0.880 1.451
P (periodo, anos) 282 409.1 248
T (data periélio) 1991.2 2129.1 1989.8
E (long 1930.0) 102.7 102.6 108.5
m (massa, Terra=1) 6.6 2.0 0.002
M (magnitude) 12-13 15 15

Com a descoberta de Plutão, poderia parecer que a pesquisa do Planeta X teria chegado ao fim. Ou teria mesmo? O novo planeta mostrou-se ser desapontadamente pequeno; nessa altura, foi estimado que a massa de Plutão teria apenas cerca de 10 por cento da massa da Terra. Nos anos que se seguiram, as estimativas da massa incluíram:

Crommelin 1930: 0.11 (Massas da Terra)
Nicholson 1931: 0.94
Wylie, 1942: 0.91
Brouwer, 1949: 0.8-0.9
Kuiper, 1950: 0.10
1965: < 0.14 (ocultação de estrela fraca por Plutão)
Seidelmann, 1968: 0.14
Seidelmann, 1971: 0.11
Cruikshank, 1976: 0.002

Este assunto não esteve terminado até que James W. Christy descobriu a lua de Plutão Caronte em Junho de 1978. Christy conseguiu confirmar a estimativa de Cruikshank que a massa de Plutão era apenas 1/1000 da massa da Terra. Para ver de outro modo, o nono planeta era apenas de 20 por cento da massa da nossa Lua.

A PROCURA DO PLANETA X, 1930 - PRESENTE

A pequena massa de Plutão significa que o planeta é desesperadamente inadequado para produzir perturbações gravitacionais mensuráveis em Urano e Netuno. Plutão não podia ser o Planeta X de Lowell - o planeta encontrado não era o planeta procurado. O que parecia ser outro triunfo da mecânica celeste tornou-se num acidente, ou melhor no resultado da inteligência e da perfeição da pesquisa de Clyde Tombaugh.

Tombaugh continuou a sua pesquisa durante mais 13 anos, e examinou o céu desde o pólo norte celeste até aos 50° de declinação sul, até magnitude 16-17, algumas vezes mesmo 18. Tombaugh examinou alguns 90 milhões de imagens de alguns 30 milhões de estrelas de mais de 30,000 graus quadrados de céu. Descobriu um novo aglomerado globular, 5 novos aglomerados de estrelas, um novo super aglomerado de 1,800 galáxias e alguns novos pequenos aglomerados de galáxias, um novo cometa, cerca de 775 novos asteróides, mas nenhum novo planeta à exceção de Plutão. Tombaugh concluiu que não existia qualquer planeta com brilho maior do que magnitude 16.5. Só um planeta com uma órbita quase polar e situado próximo do pólo sul celeste poderia escapar à sua detecção. Ele podia ter escolhido um planeta da dimensão de Netuno a sete vezes a distância de Plutão, ou um planeta da dimensão de Plutão a 60 UA.

Durante este período, outros astrônomos procuraram planetas adicionais. Outro suspeito trans-Neptuniano de curta duração foi reportado em 22 de Abril de 1930 por R.M. Stewart em Ottawa, Canadá. Foi descoberto em placas obtidas em 1924. Crommelin calculou uma órbita à distância de 39.82 UA, um nó ascendente de 280.49° e uma inclinação de 49.7°. Tombaugh procurou o "Objecto Ottawa" sem o encontrar. Foram feitas outras pesquisas, mas nada foi encontrado.

Pickering continuou na predição de novos planetas. Outros também previram novos planetas em bases teóricas (o próprio Lowell já tinha sugerido um segundo trans-Neptuniano a cerca de 75 UA). Em 1946, Francis M. E. Sevin sugeriu um planeta trans-Plutoniano a 78 UA. Ele primeiro deduziu-o de um curioso método empírico pelo qual ele agrupou os planetas e o asteróide errático Hidalgo, em dois grupos de corpos interiores e exteriores:

Grupo I: Mercúrio Vênus Terra Marte Asteróides Júpiter
Grupo II: ? Plutão Netuno Urano Saturno Hidalgo

Depois somou os logaritmos dos períodos de cada par de planetas, chegando a uma soma constante aproximada de cerca de 7.34. Assumindo que esta soma é válida para Mercúrio e o trans-Plutão, também, chegou a um período de cerca de 677 anos para o "Trans-Plutão". Sevin mais tarde criou um conjunto completo de elementos para o "Trans-Plutão": uma distância de 77.8 UA, um período de 685.8 anos, uma excentricidade de 0.3 e uma massa de 11.6 massas terrestres. A sua predição agitou pouco o interesse entre os astrônomos.

Em 1950, K. Schutte de Munique usou dados de oito cometas periódicos para sugerir um planeta trans-Plutão a 77 UA. Quatro anos mais tarde, H. H. Kitzinger de Karlsruhe, usando os mesmos oito cometas, prolongou e pormenorizou o trabalho, encontrando o suposto planeta a 65 UA, com um período de 523.5 anos, uma inclinação orbital de 56° e uma magnitude estimada de 11.

Em 1957, Kitzinger de novo tentou resolver o problema e chegou a novos elementos: uma distância de 75.1 UA, um período de 650 anos, uma inclinação de 40° e uma magnitude de cerca de 10. Depois de pesquisas fotográficas sem sucesso, de novo trabalhou neste problema em 1959, chegando a uma distância média de 77 UA, um período de 675.7 anos, uma inclinação de 38° e uma excentricidade de 0.07. Este planeta não era diferente do "Trans-Plutão," de Sevin, e em alguns casos semelhante ao planeta P de Pickering. No entanto, este planeta não foi encontrado.

O Cometa Halley também foi usado com uma "sonda" de planetas trans-Plutão. Em 1942, R. S. Richardson descobriu que um planeta da dimensão da Terra a 36.2 UA, ou 1 UA além do afélio de Halley, iria atrasar a passagem de Halley no periélio de modo que concordava melhor com as observações. Um planeta a 35.3 UA de 0.1 da massa da Terra teria um efeito semelhante. Em 1972, Brady previu um planeta a 59.9 UA com um período de 464 anos, uma excentricidade de 0.07, uma inclinação de 120° (isto é, numa órbita retrógrada), e uma magnitude de 13-14. Este planeta teria aproximadamente a dimensão de Saturno. Um planeta trans-Plutoniano como este iria reduzir os resíduos do Cometa Halley significativamente para a passagem no periélio em 1456. Este planeta trans-Plutoniano gigante também foi procurado, mas nunca encontrado.

PESQUISAS RECENTES

Tom van Flandern examinou as posições de Urano e de Netuno na década de 1970. A órbita calculada de Netuno correspondia às observações apenas durante alguns anos, e depois começou a afastar-se. A órbita de Urano correspondia às observações durante uma revolução mas não durante a revolução anterior.

Em 1976, van Flandern convenceu-se que existia um décimo planeta. Depois da descoberta de Caronte em 1978 ter mostrado que a massa de Plutão é muito menor do que o esperado, van Flandern convenceu o seu colega Robert S. Harrington do Observatório Naval dos E.U. da existência deste décimo planeta. Eles começaram a trabalhar em conjunto investigando o sistema de satélites de Netuno. Os seus pontos de vista depressa divergiram. Van Flandern pensou que o décimo planeta se tinha formado para lá da órbita de Netuno, enquanto Harrington acreditava que ele se tinha formado entre as órbitas de Urano e Netuno. Van Flandern pensou que seriam necessárias mais informações, tal como a massa de Netuno mais rigorosa fornecida pela Voyager 2.

Harrington começou a procurar o planeta pela força bruta. Começou em 1979, e em 1987 ainda não tinha encontrado o planeta. Van Flandern e Harrington sugeriram que o décimo planeta deveria estar próximo do afélio num órbita altamente elíptica. Se o planeta é escuro, deve ter magnitude muito baixa, 16-17, sugere van Flandern. Em 1987, John Anderson, do Laboratório de Propulsão a Jacto (Jet Propulsion Laboratory - JPL), examinou os movimentos das naves espaciais Pioneer 10 e Pioneer 11, para ver se conseguia encontrar alguma deflexão devida a forças de gravidade desconhecidas. Não encontrou qualquer deflexão; Anderson concluiu que um décimo planeta provavelmente não existe.

Anderson concluiu que o décimo planeta deve ter uma órbita altamente elíptica, levando-o longe demais para não ser detectável atualmente, mas trazendo-o periodicamente suficientemente próximo para deixar a sua assinatura perturbando o caminho dos planetas exteriores. Ele sugeriu uma massa de cinco massas terrestres, um período orbital de 700 a 1,000 anos, e uma órbita altamente inclinada. A sua perturbação nos planetas exteriores não serão detectadas antes de 2600. Anderson esperava que as duas Voyager ajudassem a encontrar a localização do planeta.

Conley Powell do JPL também analisou os movimentos planetários e descobriu que as observações de Urano correspondiam muito melhor aos cálculos depois de 1910 do que antes. Powell sugeriu um planeta com 2.0 massas terrestres a 60.8 UA do Sol, um período de 494 anos, uma inclinação de 8.3° e apenas uma pequena excentricidade.

O que mais intrigou Powell foi que o período tinha aproximadamente o dobro do período de Plutão e três vezes o do Netuno, sugerindo que o planeta que pensou ter conseguido encontrar com as informações tinha uma órbita estabilizada por ressonância mútua com os seus vizinhos mais próximos apesar da sua grande separação. A solução levava a um planeta que existe em Gêmeos, que é mais brilhante do que Plutão quando foi descoberto. Em 1987 foi desenvolvida uma pesquisa no Observatório Lowell pelo planeta de Powell - nada foi encontrado. Powell reexaminou a sua solução e reviu os elementos: 0.87 massas terrestres, uma distância de 39.8 UA, um período de 251 anos, e uma excentricidade de 0.26. A órbita é muito semelhante à de Plutão. Atualmente, o novo planeta de Powell deve estar em Leão, com magnitude 12; no entanto, Powell pensa que é prematuro procurá-lo até analisar de novo os dados.

Descobertas de Asteróides e Cometas

Mesmo sem encontrar um planeta trans-Plutão, o interesse na sua descoberta focou a atenção dos astrônomos na parte exterior do sistema solar. Durante 1977-1984, Charles Kowal conduziu uma nova busca sistemática de corpos ainda não descobertos no sistema solar, com auxílio do telescópio Schmidt de 48 polegadas do Observatório Palomar. Em Outubro de 1987, ele descobriu o asteróide 1977 UB, depois chamado Chiron, movendo-se a uma distância média de 13.7 UA, um período de 50.7 anos, uma excentricidade de 0.3786 e uma inclinação de 6.923°. Chiron tem um diâmetro de cerca de 50 quilômetros (31 milhas).

Durante a sua pesquisa, Kowal também encontrou 5 cometas e 15 asteróides, incluindo Chiron, o asteróide conhecido mais distante quando foi descoberto. Kowal também recuperou 4 cometas e 1 asteróide perdidos. Kowal não descobriu um décimo planeta, e concluiu que não existia qualquer planeta desconhecido mais brilhante do que a magnitude 20 dentro dos 3° da elíptica.

Chiron foi primeiro anunciado como um "décimo planeta" mas foi rapidamente designado por asteróide. Mas Kowal suspeitou que pode ser do tipo cometa, e mais tarde deve ter desenvolvido uma pequena cauda planetária. Em 1995, Chiron também foi classificado como um cometa - é decerto o maior cometa já descoberto.

Em 1992, foi descoberto um asteróide ainda mais longínquo, Pholus. Mais tarde ainda nesse ano, foi descoberto um asteróide fora da órbita de Plutão, seguido de cinco asteróides adicionais trans-Plutão em 1993 e pelo menos uma dúzia em 1994. Entretanto, as naves espaciais Pioneer 10 e 11 e as Voyagers 1 e 2 viajaram para fora do sistema solar, e foram utilizadas como "sondas" para investigar forças gravitacionais que possam ser provocadas por planetas desconhecidos. No entanto, nenhum foi encontrado.

As Voyager também conseguiram calcular mais rigorosamente as massas dos planetas exteriores. Quando estas massas atualizadas foram inseridas nos dados numéricos do sistema solar, as diferenças nas posições dos planetas exteriores finalmente desapareceram. Parecia que a procura do "Planeta X" finalmente tinha terminado. Não existia um "Planeta X" (Plutão na verdade não conta), mas em vez disso foi encontrada uma cintura de asteróides fora de Netuno/Plutão. Os asteróides fora da órbita de Júpiter que eram conhecidos em Agosto de 1993 são os seguintes:

Asteróide a e Incl Nó Arg perié Méd an Per Nome
AU graus graus graus graus ano

944 5.79853 .658236 42.5914 21.6567 56.8478 60.1911 14.0 Hidalgo
2060 13.74883 .384822 6.9275 209.3969 339.2884 342.1686 51.0 Chiron
5145 20.44311 .575008 24.6871 119.3877 354.9451 7.1792 92.4 Pholus
5335 11.89073 .866990 61.8583 314.1316 191.3015 23.3556 41.0 1991DA

1992QB1 43.82934 .087611 2.2128 359.4129 44.0135 324.1086 290 "Smiley"
1993FW 43.9311 .04066 7.745 187.914 359.501 0.4259 291 "Karla"

Época: 1993-08-01.0 TT

Em Novembro de 1994, eram conhecidos estes asteróides trans-Neptunianos:

Objecto a e incl R Mag Diam Data da Descobridores
UA graus km Descoberta

1992 QB1 43.9 0.070 2.2 22.8 283 1992 Ago Jewitt & Luu
1993 FW 43.9 0.047 7.7 22.8 286 1993 Mar Jewitt & Luu
1993 RO 39.3 0.198 3.7 23.2 139 1993 Set Jewitt & Luu
1993 RP 39.3 0.114 2.6 24.5 96 1993 Set Jewitt & Luu
1993 SB 39.4 0.321 1.9 22.7 188 1993 Set Williams et al.
1993 SC 39.5 0.185 5.2 21.7 319 1993 Set Williams et al.
1994 ES2 45.3 0.012 1.0 24.3 159 1994 Mar Jewitt & Luu
1994 EV3 43.1 0.043 1.6 23.3 267 1994 Mar Jewitt & Luu
1994 GV9 42.2 0.000 0.1 23.1 264 1994 Abr Jewitt & Luu
1994 JQ1 43.3 0.000 3.8 22.4 382 1994 Mai Irwin et al.
1994 JR1 39.4 0.118 3.8 22.9 238 1994 Mai Irwin et al.
1994 JS 39.4 0.081 14.6 22.4 263 1994 Mai Luu & Jewitt
1994 JV 39.5 0.125 16.5 22.4 254 1994 Mai Jewitt & Luu
1994 TB 31.7 0.000 10.2 21.5 258 1994 Out Jewitt & Chen
1994 TG 42.3 0.000 6.8 23.0 232 1994 Out Chen et al.
1994 TG2 41.5 0.000 3.9 24.0 141 1994 Out Hainaut
1994 TH 40.9 0.000 16.1 23.0 217 1994 Out Jewitt et al.
1994 VK8 43.5 0.000 1.4 22.5 273 1994 Nov Fitzwilliams et al.

Os corpos trans-Neptunianos parecem formar dois grupos. Um grupo, composto por Plutão, 1993 SC, 1993 SB e 1993 RO, têm órbitas excêntricas e uma ressonância de 3:2 com Netuno. O segundo grupo, incluindo 1992 QB1 e 1993 FW, está ligeiramente mais longe e numa excentricidade baixa.

NEMESIS, A ESTRELA COMPANHEIRA DO SOL, 1983-PRESENTE

Suponha que o nosso Sol não está sozinho mas tem uma estrela companheira. Suponha que esta estrela companheira se move numa órbita elíptica, a sua distância ao Sol varia entre 90,000 UA (1.4 anos luz) e 20,000 UA, com um período de 30 milhões de anos. Suponha também que esta estrela é escura ou pelo menos muito fraca, e por causa disso ainda não a vimos.

Isto significaria que uma vez em cada 30 milhões de anos esta hipotética estrela companheira do Sol iria passar pela Nuvem Oort (uma nuvem hipotética de proto-cometas a uma grande distância do Sol). Durante esta passagem, os proto-cometas na nuvem de Oort seriam espalhados. Algumas dezenas de milhares de anos mais tarde, aqui na Terra nós iríamos notar um aumento dramático do número de cometas que passam no sistema solar interior. Se o número de cometas aumenta dramaticamente, também aumenta o risco de a Terra colidir com o núcleo de um destes cometas.

Ao examinar o registro geológico da Terra, nota-se que cerca de uma vez em cada 30 milhões de anos ocorreu uma extinção de vida em massa na Terra. A mais conhecida desses acontecimentos em massa é, evidentemente, a extinção dos dinossauros há cerca de 65 milhões de anos. A teoria prediz que haverá outra extinção em massa dentro de 15 milhões de anos.

Esta hipotética "companheira da morte" do Sol foi sugerida em 1985 por Daniel P. Whitmire e John J. Matese da Universidade da Luisiana do Sul. Até recebeu um nome, Nemesis. Um fato bizarro da hipótese de Nemesis é que não existe qualquer evidência de uma estrela companheira do Sol. Não precisa de ser nem muito brilhante nem muito massiva. Uma estrela muito mais pequena e fraca do que o Sol seria suficiente, mesmo sendo uma anã escura (o corpo planetário sem massa suficiente para começar a "queimar hidrogênio" como uma estrela). É possível que esta estrela exista num dos nossos catálogos de estrelas fracas sem alguém ter notado algo de peculiar, nomeadamente o enorme movimento aparente dessa estrela contra o fundo de estrelas mais distantes (isto é, o seu paralaxe). Se Nemesis fosse encontrada, poucos iriam duvidar que esta é a principal causa de extinções em massa periódicas na Terra.

Em 1987, Whitmire e Matese sugeriram um décimo planeta a 80 UA com um período de 700 anos e uma inclinação de talvez 45°, como alternativa à hipótese de "Nemesis". No entanto, de acordo com Eugene M. Shoemaker, este planeta não poderia ter causado a chuva de meteoros que Whitmire e Matese sugeriram. Nemesis também é uma noção de poder mítico. Se um antropologista de uma geração anterior tivesse ouvido uma história como esta, o livro de ensino resultante iria sem dúvida usar termos como 'primitivo' ou 'pré-científico'.

Considere esta história: Há outro Sol no céu, um Sol Demônio que não conseguimos ver. Há muito tempo, mesmo antes do tempo da bisavó, o Sol Demônio atacou o nosso Sol. Caíram cometas, e um terrível inverno atingiu a Terra. Quase toda a vida foi destruída. O Sol Demônio já atacou muitas vezes. Irá atacar de novo.

É por isto que alguns cientistas pensaram que esta teoria era uma anedota quando primeiro a ouviram - um Sol invisível a atacar a Terra com cometas parece uma ilusão ou um mito. Merece um pouco mais de cepticismo por essa razão: nós estamos sempre em perigo de nos auto-iludir. Mas mesmo que a teoria seja especulativa, é séria e respeitável, porque a idéia principal pode ser testada: encontra-se a estrela e examina-se as suas propriedades. No entanto, a existência de Nemesis não é muito provável. O Satélite Astronômico por Infravermelhos (Infrared Astronomical Satellite - IRAS) examinou todo o céu no espectro infravermelho distante (IR). No entanto, não encontrou qualquer evidência de uma estrela que correspondesse à descrição de "Nemesis."

Referências: Ashbrook, Joseph. "The many moons of Dr. Waltemath." (As Muitas Luas do Dr. Waltemath) Sky and Telescope, Vol. 28, p. 218, Outubro de 1964. Corliss, William R. "Mysterious Universe: A handbook of astronomical anomalies." (Universo Misterioso: Um manual de anomalias astronómicas) Sourcebook Project, 1979. Hoyt, William Graves. "Planet X and Pluto." (Planeta X e Plutão) Imprensa da Universidade de Arizona, 1980. Jay, Delphine. "The Lilith Ephemeris." (A Efeméride de Lilith) Federação Americana de Astrólogos, 1983. Ley, Willy. "Watcher's of the skies." (Observador dos Céus) Viking Press New York, 1969. Littman, Mark. "Planets Beyond - discovering the outer solar system." (Planetas Longínquos - descobrindo o sistema solar exterior) John Wiley, 1988. Sagan, Carl e Ann Druyan. "Comet." (Cometa) Michael Joseph Ltd, 1985. Van Flandern, Tom. "Dark Matter, Missing Planets & New Comets. Paradoxes resolved, origins illuminated." (Matéria Escura, Planetas Desaparecidos & Cometas Novos. Paradoxos Resolvidos, origens iluminadas) North Atlantic Books, 1993.

HISTÓRIA DO ESPAÇO
Vistas do Sistema Solar por Calvin J. Hamilton..
Traduzido para português por Fernando Dias, e-mail:

ELEMENTO CIVILIZADOR UNIVERSAL

Para justificar tantas coincidências de mitos - lendas e panteões -, religiosos entre povos diversos e distantes, alguns estudiosos determinam que, em algum lugar do passado histórico humano, houve alguma civilização adiantadíssima, em relação às demais, a ponto de influenciar de maneira significativa aquelas outras culturas. Mas, alguns requisitos básicos tornam-se necessários para tais acontecimentos: a civilização dominante deveria estar num estágio evolutivo desproporcional, em relação as demais; ter-se desenvolvido com elementos mais próprios possíveis; apresentar avanços tecnológicos; ter estabelecido contatos ou domínios mais ou menos longos com os influenciados; e sua obra ter sido de caráter quase que universal - estabelecimento de colônias distantes mas sempre assistidas, em partes distintas do globo, alem de fazer de seus primeiros discípulos, pregoeiros das boas-novas ensejadas.

Especialistas há que exigem que a própria derrocada do império dominador tenha sido, senão catastrófica, pelo menos violenta, para que os relatos dos sobreviventes ou testemunhas, tivessem deixado marcas profundas nas mitologias e lendas, bem como nas consciências dos povos submetidos ou aliados.

Estabelecidos os pontos, voltamos às grandes civilizações do passado, tomando-se aí, primeiramente - mas não necessariamente em ordem cronológica - a Sumeriana.

A história não dá saltos, segundo o decodificador do Espiritismo, Allan Kardec, mas parece ter havido uma exceção, com referência ao povo sumeriano, de origem desconhecida - segundo Amar Hamdani na obra Suméria, a Primeira Grande Civilização, edição Otto Pierre, 1.978 - de língua enigmática, sem nenhuma correspondência com qualquer outro povo na região, com semelhança apenas ao dravídico indiano e do antigo Ceilão, tudo indicando que esta civilização Sumeriana relacionou-se ou era ramo dos dravidianos, numa séria suposição de Ourssel Masson - La Philosophie en Orient - mencionada por Challaye.

Com ou sem aqueles paralelos lingüísticos, o povo sumeriano surgiu na região da Mesopotâmia em meados do 4º milênio a. C., encontrando uma população vivendo na pré-história - povos nômades e semi nômades -, vagando pela região, com pouco cultivo, vida pastoril insipiente, com artefatos de pedras e alguns poucos utensílios talhados.

A fixação sumeriana não encontrou resistências e, de forma tão súbita quanto seu aparecimento na região, determinou uma vida sedentária, instalando cidades, irrigando campos, criando uma vida social sem precedentes e regrada pelo direito, incremento às artes - em belas esculturas -, aplicando um sistema inteligível de escrita - primeiro no mundo -, regras numéricas e matemáticas, estudos e tratados de astronomia, práticas e avanços das ciências médicas, desenvolvimento da ciência militar, e uma engenharia arquitetônica revolucionária - princípio dos arcos nas construções.

Se a sua literatura não foi das mais ricas - ao gosto dos pesquisadores -, podem ser destacadas no entanto o Mito da Criação e a Epopéia de Gilgamesh, alem de algumas outras narrativas míticas e épicas, ao lado das de louvores e lamentações às condições humanas, com personagens inspirados pelo destino da dor e do ser - palavras tomadas de empréstimo de Leon Denis - diante de universo de deuses.

Apesar da considerada pobreza literária sumeriana, foram justamente seus personagens e contos que, plagiados e adaptados posteriormente, deram vida aos deuses formadores da história e das religiões de outros povos, com influências nos usos e costumes, moral e regras sociais, sem considerações às demais assimilações técnicas e de estudos.

É interessante observar, que os sumerianos não tinham uma literatura sagrada propriamente dita, e muito menos legou à humanidade o seu sistema religioso definido de crença, até mesmo porque não o tinha, contudo sua visão metafísica penetrou tão profundamente nos povos circunvizinhos, que é impossível não identifica-la nas civilizações que lhe sucederam e naquelas que posteriormente se formaram.

A civilização Sumeriana não foi o que pode ser chamado de elemento civilizador universal, mas teve importante participação na formação dos povos, partindo com os acadianos, babilônios e semitas em geral, como seus sucessores imediatos, e que vieram, ao longo dos tempos, contribuir para influenciar o mundo de então. Inserido nestas linhas de pensamentos, surge como elemento colonizador o povo fenício, aparentemente sem nenhuma conotação direta com os sumerianos, conhecido como a civilização dos navegantes comerciários e que, como tal, lançou-se aos mares e oceanos, fundando colônias nos mais diversos pontos do mundo, como postos e entrepostos comerciais, estabelecendo rotas marítimas.

A Fenícia mantinha estreitas relações com o Egito - e este teve influência sumeriana -, a tal ponto que o Faraó Nekaó (609 - 594 - a. C), financiou uma expedição marítima realizada pelo navegador fenício Haram que, saindo pelo Mar Vermelho ganhou o Índico, contornou a África, singrou águas do Atlântico para chegar ao Egito, pelo Mediterrâneo - descrição Livro 3 - História Geral I, de Claudio Vicentino e Gilberto Marone - 2ª edição Anglo Vestibulares 1.990/l.99l.

Salomão (97l - 932 a. C), rei de Israel, nação fortemente influenciada cultural e religiosamente pelos povos mesopotâmicos, utilizou-se dos navegantes fenícios e, às vezes, frotas de seus navios, para viagens comerciais com a Espanha, que duravam três anos, partindo do Mar Vermelho - Bíblia, II Crônicas 9: 21 e I Reis 10: 22, mais as referências.

No livro de I Reis 9: 26 - 28, Salomão determina construção de uma frota que é equipada pelos fenícios e por eles conduzida, e que chegaram até Ofir; em II Crônicas 8: 18, o rei fenício mandou a Salomão navios e gente prática do mar que foram a Ofir. Dos textos bíblicos referidos, cabem atenções quando das colocações chegaram até Ofir, em distinção com foram a Ofir. Salvo se por problemas de traduções / versões, tem-se a impressão de que Ofir não era situada na rota comum das navegações de Asion-Geber, no Mar Vermelho, até a Espanha, sendo que o texto bíblico deixa transparecer que a chegada da frota de Salomão até Ofir, fora uma grande proeza, muito mais que ir à Espanha.

Onde porém localizar Ofir? Nada se sabe a respeito, sendo que a Arábia, Etiópia, Índia e até a América do Sul e nesta o Brasil, alem da África, já foram cogitadas como a misteriosa e riquíssima Ofir. Porque os israelitas utilizavam-se, pelos fenícios, a rota contornando a África para se chegar à Espanha? Não seria mais econômico e viável pelo Mediterrâneo?

Osvaldo Ronis, Geografia Bíblica edição 1.975, traz a explicação de que o Mediterrâneo é de pouca profundidade na costa palestínica, assim impedindo a aproximação de navios de maior calado, mesmo dos tempos antigos; razão pela qual o Mediterrâneo não funcionava, para Israel, como caminho marítimo, antes o isolava do mundo. Nesta obra, onde o autor descreve sobre a Geografia Palestínica e não sobre aquelas viagens, destaca-se que os israelitas valiam-se dos portos fenícios no Mediterrâneo e poucas vezes do porto de Jope, sob seu domínio, dado os recifes e bancos de areia.

Logicamente cabem discordâncias das explicações de Ronis e, longe de discussões e pressupostos, a realidade era que os fenícios atingiam, pelos mares e oceanos, as mais distantes terras, inclusive atingindo as Américas, onde as marcas de suas passagens, sobretudo na América do Sul, não são meros indícios, e das quais a América ainda não perdeu lembranças.

Numa interessante matéria inserida na publicação Planeta, de numero l4, 1973, de Antônio Carlos Dumortout Werneck - A Esfinge da Gávea -, cita estudiosos e autores diversos que descrevem e afirmam as passagens dos fenícios pelas Américas, no caso, o Brasil. Na revista mensal Planeta, numero 198, de março de 1.989, matéria Pedra da Gávea - O Mito e a Realidade, Aurélio M.G. de Abreu, também faz citações de especialistas que atestam presença fenícia no Brasil. Se as matérias não trazem a profundidade desejada para o assunto, também não eram esses os objetivos, por outro lado citam excelentes fontes de pesquisas.

Mas como os fenícios chegavam à América? Se o contorno do continente africano não lhes era desconhecido, nada poderia obsta-los no avanço à América do Sul. Poderiam também chegar pela rota dos escandinavos, aos atuais Canadá e Estados Unidos, caminhos que os celtas e vikings utilizaram, comprovadamente, tempos depois. Outra rota seria pela China - que também efetivamente manteve algum contato com a América - ou pelas ilhas do Pacífico em direção às costas americanas, pelos prováveis caminhos dos melanésios.

Efetivamente os fenícios fizeram isto? Primeiro há de se considerar que os fenícios não somente faziam rotas comerciais conhecidas, como também se aventuravam por águas desconhecidas, em busca de novos postos avançados. Não bastasse isto, também prestavam serviços a outros povos, a exemplos citados de Israel e Egito. Neste aspecto, de prestações de serviços ou de viagens financiadas, ressalte-se o Egito: não eram navegadores a nível dos fenícios e, não obstante, estiveram nas Américas, não por indícios ou provas esparsas, mas comprovadamente por pesquisas e levantamentos das mais alta ordem, desde os estudos comparativos de hieróglifos egípcios e maias, que não apenas coincidem em pelo menos treze caracteres, como possuem os mesmos significados, conforme o estudioso Auguste de Le Plangeon, ou das escritas dos guaranis também semelhantes às dos egípcios, demonstradas pelo Doutor Bertoni, como ainda as comprovações arqueológicas das hipóteses de Braghine, todos estes mencionados na obra de Philippe Azis, Atlantida - a Civilização Desaparecida - pela Otto Pierre Editores, 1.978, que, aparentemente não se trata de um atlantólogo, uma vez que sua obra é uma coletânea de teses audaciosas, quase sempre recorrentes a especialistas renomados, sem deixar de citar os ficcionistas e especuladores.

Ainda por Azis, outros paralelos são destacados, como as proximidades das divindades egípcias com as dos maias e incas, cujos números ultrapassam as barreiras das simples coincidências; também, as provas incontestes de realizações que saltam aos olhos de tantas igualdades, como as esculturas, estatuetas, obras de engenharias - construções civis e obras de irrigações - murais com os mesmos motivos, e as famosas pirâmides, alem das ciências médicas e astronômicas.

Se o Egito esteve na América, os judeus - povo de Israel - não deixaram por menos; também não eram notáveis navegadores, utilizando-se quase sempre dos fenícios, em suas viagens mais longas, porém sua presença nas culturas americanas tem sido objetos de muitas atenções por parte dos especialistas, sejam pelos traços fisionômicos característicos, onde esculturas identificam tais semelhanças, observáveis em tribos de México e Peru; pelas identidades linguísticas de algumas tribos americanas com o semítico, ora pela exagerada semelhança da Gênesis Bíblica com o Codex Maia, e crenças de praticamente todos os povos americanos, com as mesmas inspirações e personagens, e até mesmo em rituais - circuncisão - e regras de ordens gerais. (Posições baseadas nas obras de Braghine).

Em suas viagens à América, os fenícios utilizavam não somente a rota pelo contorno do continente africano, mais utilizada para navios de grande porte, mas também - com navios menores - o itinerário Espanha, onde tinham a colônia de Tarsis, Açores e continente Americano. Por Braghine sabe-se que em Açores foram encontradas moedas fenícias (cartaginesas), e lá existiam estátuas, inscrições e um marco apontando em direção ao continente americano - a célebre estátua eqüestre.

Viagem pela rota dos nórdicos pode parecer, num primeiro momento, algo muito vago, porem consideramos: os nórdicos não eram estranhos aos povos do Oriente Médio, em cuja região mantiveram, por longo período, uma Federação; cita-os a Bíblia, como os filisteus - traços fisionômicos, cultura, divindades e língua, alem dos tratados entre eles com o povo egípcio.

Descrevem e atestam as presenças nórdicas no Oriente Médio, alem de outros autores, Olivier Launay - A Civilização dos Celtas -; Patrick Louth - A Civilização dos Germanos e Vikings; e Jean-Claude Valla - A Civilização dos Incas. As obras mencionadas, fazem partes da coleção Grandes Civilizações Desaparecidas, da Otto Pierre Editores.

Considerando a presença nórdica no Oriente Médio, e que muito tinham a oferecer em termos comerciais e tecnológicos - armas, navios e artefatos, além de produtos alimentícios do mar -, seria impossível que mercadores fenícios não se dirigissem até às terras de origens daqueles povos, para transações, e de lá não prosseguissem à Islândia, Groelândia e Vinlândia - América. Uma rota para a China se sustenta pelas razões: a civilização chinesa, de 1890 à 1100 a.C., plantava trigo, produzia seda, lavrava o jade, fazia artefatos de bronze, fundia o ferro, utilizava a roda e tinha carros de guerra e de transportes que, sem dúvidas, eram produtos e avanços que interessavam às civilizações com as quais mantinha comércios, como a Índia, Pérsia e povos circunvizinhos. Um comércio terrestre, utilizado internamente, era contudo dificultado quando se tratava daquelas outras nações, em razão do Himalaia, que o inviabilizava em termos econômicos; e pelos caminhos dos mares, apenas a Fenícia tinhas condições para realizações, dado conhecimentos das rotas marítimas e infra-estruturas para empreendimentos de tal magnitude.

A China somente aventurou-se ao mar, para longas viagens, em 1403 da era atual, atingindo o Sudeste Asiático, Índia, Ormuz, Pérsia, África Oriental, regiões do Mar Vermelho e Arábia; inexplicável e repentinamente em 1443 as navegações chinesas foram cessadas - Nações do Mundo / China, Editora Cidade Cultural, 1.989. Mas os chineses chegaram à América e os traços de suas influências são fortíssimos, tanto na cultura Chavin no Peru, quanto na Olmeca no México, conforme refere-se Jean-Claude Valla, fundamentando-se nos estudos do alemão Robert Heine Goldern, que tinha como fonte do Professor Pedro Bosch-Gimpera, da Universidade do México, e nas narrativas colhidas do estudioso Juan de Torquemada.

Citando Henriette Mertz: Deuses do Extremo Oriente: Como os Chineses Descobriram a América, a Planeta l39-D narra uma possível expedição chinesa em 2.250 a. C. e uma outra no século V da era atual, sendo que esta deixou fortes influências nas artes, ciências e religião dos autóctones do México e sul dos Estados Unidos, onde mais se encontram pontos comuns entre as culturas chinesa e a do novo mundo, inclusive nos sistemas de calendários e astronomia.

Não se trata de por em dúvida a capacidade de navegação dos chineses em direção à América, até porque sua estadia no continente americano é inegável, sob e sobre todos os aspectos e pontos de vistas dos especialistas, porém, traze-los como cultura influenciadora no novo mundo, pós Cristo, seria no mínimo rejeitar a história daquela civilização. O período de formação de base dos povos americanos é pré às grandes civilizações encontradas pelos conquistadores espanhóis, como as Inca, Asteca e Maia, pois que nestas ocorreram como elementos reformadores culturais, os celtas e os vikings, com traços e roupagens cristãs, quando iniciou período de aquisições dos novos valores, sem omissões dos anteriores, então somente apagadas com a chegada dos europeus invasores, no final do século XV e início do XVI, conjuntamente com o Clero Católico.

Existem, do lado dos chineses, relatos que comprovam suas viagens à América ou vínculos com a Fenícia, em grandes expedições? Salvo alguns fragmentos raros, mais próximos a lendas, parece que nada mais existe, cabendo apenas a lembrança de que, entre 22l a 206 a.C., foram queimados todos os livros e documentos pela dinastia Qin, apagando-se todos os traços de possíveis vínculos ou dependências da China, em relação a outros povos, por serem considerados subvertedores e diminuidores do poder chinês; em troca de tamanha estupidez, a humanidade recebeu, como legado, a Grande Muralha, daquela dinastia - Nações do Mundo / China.

A América também foi visitada pelos negróides, africanos e melanésios, e eles acham-se representados nas esculturas, em partes distintas do continente. São fatos comprovados por estudiosos, porem não foram elementos modificadores ou influenciadores de culturas, segundo Jean-Claude Valla. Braghine admite que os negróides poderiam ter chegado à América, como escravos, principalmente os da África e, neste caso, porque não pelos fenícios que tão bem conheciam aquele continente?

Também os contatos dos fenícios com os polinésios e australóides (estes chegaram ao continente americano, extremo sul, há pelo menos oito mil anos atrás, num período de regressão glaciária, pela Antártida), parece bem possível, principalmente com os primeiros que chegaram à América, pelo Pacífico. O povo fenício pode ser considerado, senão um elemento civilizador universal, pelo menos o grande interador entre os povos da antiguidade. Excluir esta possibilidade, seria admitir então uma Atlântida ou alguma outra grande civilização, Mú por exemplo; mas delas faltam evidências materiais de existência, sendo todas as demais tidas como especulações e hipóteses, que apenas atestam influências no mundo, mas nada alem do que algum povo, a nível dos fenícios, não pudesse realizar.

Alguns ficcionistas e até mesmo autoridades sérias, apostam em civilizadores extraterrestres, ficando contudo tais hipóteses em meras especulações. Uma evidência, todavia se faz séria e salta aos olhos dos pesquisadores e curiosos do assunto, quando se trata do enigmático, desconhecido porém possível planeta X, do nosso sistema solar, que tem merecido atenções de cientistas, como John Anderson, pesquisador da NASA no Projeto Pionner, do Centro de Pesquisas Ames, numa citação de entrevista publicada pela Planeta l27, com o escritor norte americano Zecharias Sitchin: As Pistas do l0º Planeta - matéria de Philippe Piet von Putten.

Aliás, é o próprio Sitchin o defensor numero um dessa tese; ele, alem de renomado escritor, é um dos apenas quase duzentos homens no mundo que lê e decifra a escrita sumeriana , sendo merecedor de interessante e elucidativa matéria na coleção Mistérios do Desconhecido - Contatos Alienígenas, pela Abril Livros, 1993.
Para Sitchin, o planeta X não é outro senão Nibiru, cujas possibilidades de existência foram encontradas nas descobertas arqueológicas sumerianas, descritas em antigas inscrições traduzidas, e que especialistas astrônomos atuais confirmam as evidências: um estudo das órbitas de Urano e Netuno deixou evidente, segundo cientistas, a possível materialidade de um décimo planeta em nosso sistema solar, também chamado de Planeta X. - Sitchin à von Putten em entrevista informada.

Já de há muito, exegetas bíblicos mais avançados têm aventado indícios bíblicos de que extraterrestres tenham mantido contato com os primeiros homens da terra, destacando alguns textos bíblicos como Gênesis 6: 2 e 4: viram os filhos dos deuses que as filhas dos homens, e, os filhos dos deuses se uniram às filhas dos homens. Porém foi Sitchin quem, com sua autoridade de lingüista e estudioso bíblico, estabeleceu neste contexto o surgimento do homem desperto para a civilização e a origem de sua religiosidade, explicando-se aí a Gênesis Bíblica e suas fontes de origem, na identificação com os filhos dos deuses, ou sejam, os extraterrestres.

Sitchin contudo não é levado muito a sério por outros estudiosos, que consideram como mitológicas as sagas sumerianas, mas a tese é notória, preenchendo os requisitos exigidos para um elemento civilizador universal, mas sua compro