Postado em 03 de abril de 2013, às 12h:54min, horário de Brasília.
A Coreia do Norte impediu na manhã desta quarta-feira que trabalhadores sul-coreanos entrassem no complexo industrial de Kaesong, em meio à crescente tensão entre o Norte e o Sul, anunciou o governo em Seul.
"A Coreia do Norte não deu sua permissão, como faz diariamente, para que 484 trabalhadores sul-coreanos entrassem em Kaesong hoje", disse à AFP o porta-voz do ministério sul-coreano da Unificação, Kim Hyung-suk.
"O Norte nos informou esta manhã que estão autorizadas apenas as viagens de regresso de Kaesong e que o ingresso no complexo foi proibido", revelou o porta-voz. Pyongyang não precisou a duração da medida, disse Kim, que qualificou a decisão de "muito lamentável".
Kim destacou que a prioridade do governo em Seul é a segurança dos 861 sul-coreanos que estão em Kaesong. "Esperamos que nossa gente que está no Norte volte sã e salva", disse.
A zona industrial de Kaesong, situada no interior do território da Coreia do Norte, foi inaugurada em 2004 como símbolo da vontade de cooperação entre as duas Coreias.
A passagem na fronteira entre as duas Coreias em direção a Kaesong é aberta normalmente às 08h30 (20h30 Brasília), mas nesta quarta-feira os responsáveis norte-coreanos não autorizaram o ingresso dos trabalhadores sul-coreanos, destacou o porta-voz.
O parque industrial intercoreano, que conta com investimentos sul-coreanos, até o momento se mantinha em atividade, apesar da crise na península coreana. A passagem de fronteira para Kaesong funcionou normalmente nas últimas semanas, mesmo diante da crescente tensão entre Norte e Sul.
Em Kaesong trabalham mais de 50 mil norte-coreanos, a maioria para pequenas empresas sul-coreanas que atuam na área manufatureira produzindo roupas, calçados, relógios e utensílios de cozinha, entre outros.
Preciosa fonte de divisas estrangeiras, o complexo industrial sempre permaneceu aberto, apesar das repetidas crises na península, e sua estabilidade é considerada um barômetro das relações entre as duas Coreias.
Fonte: AFP
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A decisão da Coreia do Norte de bloquear o acesso dos sul-coreanos ao complexo industrial binacional de Kaesong demonstra a gravidade da tensão entre os dois países, pois as instalações, construídas em 2004, haviam permanecido fora de quase todas as crises que afetaram a península desde então.
Kaesong é oficialmente uma "região administrativa especial" da Coreia do Norte, um país comunista, que mantém as estruturas políticas e econômicas da época da Guerra Fria.
O complexo funciona como uma zona de desenvolvimento econômico de cooperação, na qual operam empresas sul-coreanas atraídas por uma mão de obra qualificada e barata.
Foi criada na época da "diplomacia do raio de sol" aplicada por Seul de 1998 a 2008 para estimular os contatos entre os dois países, separados desde a guerra da Coreia de 1950-1953.
É atualmente o único remanescente da cooperação bilateral, desde o congelamento em 2010 das relações entre os dois países.
Kaesong fica no território da Coreia do Norte, a 10 km da fronteira com o Sul, ao qual está conectado por estrada e ferrovia.
Centenas de executivos e funcionários sul-coreanos cruzam diariamente a fronteira para trabalhar no local. Os nomes são enviados previamente a Coreia do Norte, que autoriza a entrada.
QUEM TRABALHA NO LOCAL E O QUE PRODUZ KAESONG?
Em Kaesong estão instaladas atualmente 123 empresas sul-coreanas, em sua grande maioria das áreas de confecção, eletrônica e produção química. No total, 53.000 norte-coreanos trabalham no local, além de 900 sul-coreanos que supervisionam os trabalhos.
As empresas sul-coreanas investiram em Kaesong 850 milhões de dólares. Depois de um início titubeante, começaram a obter lucros em 2011.
O faturamento em 2012 alcançou 469,5 milhões de dólares. Desde 2004, soma 1,98 bilhões de dólares.
QUAL A IMPORTÂNCIA DE KAESONG PARA A COREIA DO NORTE?
Kaesong é uma fonte crucial de divisas estrangeiras para Pyongyang. Os funcionários norte-coreanos têm salário mensal de 144 dólares no complexo industrial.
Em 2012, a Coreia do Norte exigiu o pagamento de 160.000 dólares de impostos às oito empresas que estavam instaladas há mais tempo no local.