RIO – Seis dias após o terremoto, uma cena fartamente documentada permanece sem explicação: os clarões que teriam surgido logo após os tremores. O mistério, na verdade, é antigo. O fenômeno, semelhante a uma tempestade elétrica, é figurinha carimbada em sismos de grande magnitude. Ainda assim, muitos cientistas descartam sua relação com o choque de placas tectônicas.
” Existem várias teorias, todas contestáveis “
Existem várias teorias, todas contestáveis – ressalta Marcelo Assunção, professor de geofísica do Laboratório de Sismologia da USP. – Uma das explicações é que o movimento das placas tectônicas induz os minerais à formação de uma corrente elétrica, que, associada às condições atmosféricas locais, pode provocar raios. A explicação é semelhante a uma das teorias aventadas pelo site do US Geological Survey, órgão do governo americano que monitora terremotos: os clarões teriam gases formados pelo calor liberado por placas tectônicas. Outra possibilidade é que o gás radônio, produzido durante o sismo, se ioniza no ar, formando as tempestades elétricas.
” A água pode acelerar um sistema de tempestades que existia naquela região. Daí os clarões “
- No caso de um terremoto com epicentro no oceano, como ocorreu no Chile, a movimentação da água pode acelerar um sistema de tempestades que existia naquela região. Daí os clarões – cogita Osmar Pinto Junior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Para Osmar, se os raios forem realmente gerados pelo choque de placas, o monitoramento de terremotos pode ganhar um reforço no futuro. O desenvolvimento de um sensor que detectasse radiação flagraria as regiões onde a possibilidade de sismos fosse maior. – Mas a utilidade desse equipamento seria muito complexa – pondera. – Já é possível fazer algo semelhante com os vulcões, mas todos sabem onde eles ficam. A região de atrito das placas tectônicas é obviamente muito mais escondida. Ainda que os clarões sejam recorrentes nos terremotos de grande magnitude, muitos cientistas consideram que a relação entre esses fenômenos seja apenas uma coincidência. Sismólogo da Universidade de Brasília, João Willy Rosa acha que não valer a pena discutir teorias: – Já ouvi relatos sobre raios, mas não existe qualquer explicação científica. Fonte: O Globo